Área de Arte

FEEGO
5 min readNov 12, 2021

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Por Maurício Keller

A arte é, por si mesma, plena de ensinamentos, de revelações, de luz. Ela arrasta a alma em direção às regiões da vida espiritual, que é a verdadeira vida, e que a alma anseia tornar a encontrar um dia.(1)

Léon Dennis

Imagem: Maurício Keller (Assessoria de Arte — FEEGO)

No dia 28 de setembro de 2021, em reunião extraordinária do Conselho Federativo Nacional, foi aprovada a criação da Área de Arte na Federação Espírita Brasileira (FEB). Há algum tempo, os espíritas que se envolvem com a arte vêm se organizando e solicitando uma maior valorização e representatividade institucional do trabalho artístico. Essa notícia é o reconhecimento indubitável da importância da arte dentro do movimento espírita.

A criação, implantação e sustentação da Área de Arte em todas as esferas do movimento espírita brasileiro se devem à “(…) importância da Arte como veículo de educação do espírito imortal e de divulgação da Doutrina Espírita”.(2)

Destacam-se, claramente, dois objetivos centrais, segundo o CFN/FEB:

1 — Educação do espírito imortal;

2 — Divulgação da Doutrina Espírita.

Quanto ao primeiro objetivo, Kardec esclarece que não se trata da “(…) educação intelectual, mas da educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos.(3) Quanto ao segundo objetivo, ele revela dois elementos que devem concorrer para o progresso do Espiritismo: “O estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar.” (4)Ressalta-se que a arte tem sido, nas atividades do movimento espírita, um veículo transformador capaz de auxiliar na educação moral do espírito e ainda divulgar a doutrina espírita, popularizando o seu arcabouço teórico.

Na prática, para que esses dois objetivos possam ser alcançados pela Arte, é preciso abranger todos os atores do ecossistema artístico. Tanto os espíritos que se utilizam ou se beneficiam da arte, dentro ou fora do movimento: os líderes espíritas, os artistas, os promotores da arte, os educadores pela arte, os aprendizes pela arte e os apreciadores da arte. Equacionar o porquê, o quê, como, onde e quando para se atingir esses espíritos, com interesses variados e às vezes antagônicos, tem sido o grande desafio da implementação da arte espírita.

O espírito líder: Aquele que está em um cargo ou posição de liderança de instituições ou equipes de trabalho e que decide sobre a realização e valorização da arte.

O espírito artista: Aquele que cria, faz e interpreta a arte espírita.

O espírito empreendedor: Aquele que promove a arte espírita, artista ou não, através de múltiplos espaços de realização.

O espírito educador: Aquele que ensina a doutrina espírita e se utiliza da arte como instrumento educativo e transformador de almas.

O espírito aprendiz: Aquele que é educado nos princípios espíritas através da arte.

O espírito apreciador: Aquele que aprecia a arte espírita independente de religião, dentro ou fora das fronteiras espíritas.

Atualmente, a arte espírita está crescendo de forma exponencial, porém, muitas vezes, desordenada e frágil em suas bases doutrinárias. Vê-se que, embora tenha alguns esforços louváveis de integração, orientação e unificação, incluindo as iniciativas consistentes da Associação Brasileira dos Artistas Espíritas (ABRARTE), há muito o que se fazer para que seja valorizada e ganhe espaço sustentável nos núcleos espíritas.

Por outro lado, olhando para fora do movimento, testemunha-se que a Arte, em geral, vem cada vez mais cedendo ao materialismo, à sensualidade, ao ativismo político em suas diversas modalidades. De certa forma, essa realidade já era observada por Kardec em sua época, ao afirmar que a decadência das Artes “(…) resultou inevitavelmente da concentração dos pensamentos sobre as coisas materiais, concentração essa que, a seu turno, é o resultado da ausência de toda crença, de toda fé na espiritualidade do ser”(5). E mais adiante afirma categórico: “As Artes não sairão do torpor em que jazem, senão por meio de uma reação no sentido das ideias espiritualistas.”(6)

As federativas estaduais, praticamente em todo o território nacional, cada uma com suas peculiaridades e ocupações, encontram dificuldades em lidar com os desafios dentro e fora do movimento. Isto se deve, em parte, por não terem áreas especializadas no assunto, perfiladas com as diretrizes da casa mater. Nota-se que vem avançando a necessidade de alinhamento dos propósitos em torno da fidelidade e pureza doutrinárias, a fim de que se tenham espíritos engajados e preparados para o trabalho ativo e coerente nesta seara.

Diante disso, a confluência federativa da arte vem como solução para o alcance dos objetivos inicialmente expostos, a satisfação das principais necessidades e problemas encontrados no movimento espírita diante das exigências do trabalho artístico. Faz-se urgente a espiritualização da arte em conformidade com os postulados da Doutrina Espírita e da unificação das intenções, diretrizes e esforços por todo o Brasil.

A condição absoluta de vitalidade para toda reunião ou associação, qualquer que seja o seu objetivo, é a homogeneidade, isto é, a unidade de vistas, de princípios e de sentimentos, a tendência para um mesmo fim determinado, numa palavra: a comunhão das ideias. (7)

O grande propósito é que os objetivos sejam alcançados em regime de trabalho colaborativo entre as instituições que se unem de forma articulada, convergente e sinérgica na tarefa da arte. Assim, as áreas de artes serão capazes de oferecer subsídios teóricos e práticos de orientação, planejamento, implantação e desenvolvimento dos trabalhos artísticos em seus raios de ação. Isso auxiliará, sobremaneira, as federativas a lidar de forma mais cirúrgica, eficiente e sustentável dentro do ecossistema artístico do movimento espírita nacional. Divulgar a doutrina, entreter e educar o ser humano são os alvos inadiáveis das áreas de arte que serão implementadas e administradas nos centros espíritas de todo o Brasil.

“A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação desse “mais além” que polariza as esperanças da alma”. (8)

Emmanuel

Referências:

(1) — DENNIS, Léon. Espiritismo na arte. Rio de Janeiro. CELD, 2014. p. 33
(2) — Resolução CFN no 05/2014, FEB, p 1.
(3) —
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 2019. p. 320.
(4) — KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Brasília: FEB, 2019. p. 290.
(5) — KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Brasília: FEB, 2019. p. 134
(6) —
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Brasília: FEB, 2019. p. 135
(7) —
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Constituição do Espiritismo. It 2. Do Programa das Crenças. p. 310
(8) —
EMMANUEL (Espírito). O consolador. Brasília. FEB, 2019. Questão 161. p. 111

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