Esperançar

FEEGO
5 min readFeb 23, 2022

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Milena Cossio

Alegrai-vos na esperança, sedes pacientes na tribulação, perseverai na oração.(Romanos, 12:12)

O que esperar desse ano que se iniciou há tão pouco tempo? O que trará para a minha vida? O que tem a me oferecer? Quantas vezes já não fizemos estas perguntas, neste mesmo formato: o que o novo ciclo trará para nós? Aliás, percebam que nossa conversa já começa repleta de perguntas, porque, quando perguntamos estamos estimulando o nosso pensar, o nosso refletir. Mas não basta perguntar, é preciso observar a qualidade da nossa pergunta para sabermos se estão sendo feitas de forma lúcida, de forma a nos levar para uma transcendência de pensamento.

Relembremos que na passagem da Parábola do Bom Samaritano, um doutor da Lei pergunta a Jesus o que deveria fazer para herdar o Reino dos Céus, ao que Jesus lhe devolve a pergunta com outras duas perguntas, ao lhe questionar sobre o que estava escrito na Lei e a mais importante destas: “Como a lês?”. Nesse momento o Mestre estimula a mudança de paradigma presente na mente do doutor da Lei, no sentido de que não basta saber a letra, mas é preciso entender o que esta representa, pois que o doutor de imediato havia respondido o que estava escrito na Lei: “Amará o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma; e ao próximo como a si mesmo.” Perfeita a memória deste homem, mas e o sentimento? E a ação? E a identificação do próximo?

Pois bem, Jesus conta a Parábola e ao finalizá-la, após demonstrar a experiência de um sacerdote que passa pelo homem caído na estrada, ferido, assaltado e nada faz para ajudar, o mesmo acontecendo com um levita. Mas um samaritano que passava pelo local, sem pensar duas vezes, auxilia o homem. Ao término da Parábola, o Mestre, então faz a pergunta das perguntas, a que definitivamente muda o paradigma de quem é o próximo, o paradigma da ação movida pelo amor sincero e verdadeiro, ao indagar: Qual dos três homens, o sacerdote, o levita ou o samaritano foi próximo daquele que estava caído na estrada? Jesus nos ensina com esta pergunta final que não devemos ter uma visão do próximo externo, mas que busquemos esta experiência dentro de nós mesmos. Até então, o nosso paradigma de pergunta era: Quem é o meu próximo? O Mestre nos ensina a sair da inação para a ação: Como ser o próximo de alguém? Quando sou próximo do irmão que precisa?

Seguindo este mesmo entendimento, vamos descobrir que na Seara de Jesus, na Lei Divina, não existe esperar “aquilo” ou esperar “algo” ou “alguém” que venha de fora, o esperar na inação; mas existe o esperar agindo, o esperar confiando, o esperar perdoando, o Esperançar.

Esperançar significa dar ou ter Esperança, animar-se, estimular-se. Com o Mestre aprendemos a começar de onde estamos, carregando as marcas do nosso passado, dos ciclos pelos quais já passamos, mas olhando para frente, adiante, porém agindo, buscando viver a verdadeira vida, que é a do despertar dos valores morais, aqueles que nem a traça e nem a ferrugem consomem, o da chamada Virtude, na qual vamos encontrar compondo este grande compêndio de valores de elevação moral — a Esperança.

E então, a partir do Evangelho de Jesus descobrimos que a cada novo ciclo que se encerra em nossas vidas, como, por exemplo, um ano, devemos fazer o chamado balanço moral das nossas contas, avaliando aonde melhoramos, aonde precisamos nos empenhar com mais afinco; mas realizar esta análise de maneira madura, sem que remorsos ou mágoas nos aprisionem. A análise do espírito que sabe que possui fraquezas, mas que acima delas existe uma enorme vontade de melhorar.

E por falar na qualidade da Vontade, ela, a mola propulsora da nossa evolução, deve estar sempre muito ativa em nós, pois ela nos levará para o verdadeiro Esperançar, a busca de um estado espiritual melhor, mas conscientes de que isso somente se dará a partir da construção moral e íntima de cada um de nós, aproveitando o maior presente que recebemos de Deus, o hoje, o agora, a experiência atual para que o amanhã tão sonhado por todos, o da purificação em espírito possa chegar.

A pergunta, então, não mais deverá ser: O que um ano novo me trará? Mas as perguntas deverão ser: Como eu agirei e pensarei no novo ciclo que se inicia? O que deverei fazer no novo ciclo? Não será o novo ano, o meu próximo; mas eu ser o próximo, no ano que se inicia. O que isso representa? Representa a saída da ociosidade, a saída da espera de um chamado milagre de transformação, para a busca do encontro com a ação no bem, com a ação que promoverá a verdadeira transformação em meu ser, a busca do encontro com o verdadeiro milagre, que em realidade é o encontro com o entendimento da Lei Divina e a sua prática.

No livro Paulo e Estevão, psicografado pelo nosso amado Chico Xavier, vemos Abigail transmitir a Paulo de Tarso o grandioso ensinamento: “Ama, Trabalha, Espera, Perdoa”, o Esperançar desejado por ela a Paulo, pois que o esperar na prática do amor, o esperar trabalhando, o esperar perdoando… O esperar e observar as transformações em espírito a partir do servir, do amor, do perdão, do agir sempre, pois que tudo no universo é ação.

Que no ano que já se iniciou, possamos nos colocar como próximos neste tempo novo, numa atitude de ação, de fazer o bem, de pensar o bem, de sair em busca das experiências que nos levarão a moradas de consciência melhores, que possamos pegar o arado e seguir adiante com o Cristo.

Paulo de Tarso, na sua carta aos romanos, nos deixa uma dica sobre como devemos proceder neste momento de renovação, ainda que marcado por datas do tempo humano, como o terminar e o começar de um ano: a possibilidade do espírito da renovação, e que não precisa acontecer apenas de um ano para outro, mas todos os dias. Todos os dias são dias de recomeço em nossa existência, desde que queiramos e mantenhamos a chama da vontade acesa, o querer verdadeiro e sincero na evolução espiritual, a nos dizer que devemos nos alegrar na esperança, sendo pacientes na tribulação e perseverantes na oração.

Que tenhamos a atitude de sermos próximos no ciclo que se inicia, no sentido de estarmos prontos para vivermos todas as experiências necessárias para o nosso despertar constante, de buscarmos a experiência do exercício do amor, do trabalho, do perdão.

Que o nosso ser fique repleto da Esperança verdadeira, virtude ativa que nos fala do hoje que deve aproveitar todas as oportunidades de construção do espírito puro que desejamos ser e que a ação no hoje, nos levará ao amanhã tão sonhado, seguindo sempre os passos do Mestre, o grande orientador das nossas vidas.

Esperançar amando, trabalhando, perdoando, hoje e sempre…

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Federação Espírita do Estado de Goiás (ir para o site: https://www.feego.org.br/ )

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