FEEGO Entrevista

FEEGO
6 min readMar 2, 2022

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Dr. Wesley Oliveira Assis

“Nosso espírito residirá onde projetarmos nossos pensamentos, alicerces vivos do bem e do mal. Por isto mesmo, dizia Paulo, sabiamente: — Pensai nas coisas que são de cima.”

Emmanuel, pelo médium Francisco Cândido Xavier, livro Pão Nosso

Nossa entrevistada especial desse boletim é com o Dr Wesley Oliveira Assis, palestrante e trabalhador espírita, coordenador do Grupo Saúde Integral (www.gruposaudeintegral.com.br ).

1. Diante do atual cenário de pandemia mundial que estamos vivenciando, onde já estivemos e que ainda nos encontramos, de isolamento social, como podemos manter nossa saúde mental?

A humanidade está vivendo uma crise mundial sem precedentes, interferindo com todos os setores da sociedade num claro convite ao despertamento espiritual diante das mais variadas formas de sofrimento, tanto no dimensão orgânica, psíquica, social (econômica) e espiritual, ampliando a crise humanitária.

Portanto, a crise nesta dimensão, transcende a experiência para alcançar uma escala mundial onde o isolamento social, exigido pelas autoridades da saúde e necessário para diminuir a exposição ao vírus, com todas as repercussões decorrentes da globalização que envolve as pessoas em pesado fluxo de informações, ampliando a carga de estresse e ansiedade.

Sabemos que em condições como essa a carga alostática, ou seja, as reações do organismo exposto a estresse psicossocial importante, gera no organismo físico um impacto das mentalizações de medo e apreensão, com marcante sofrimento psíquico evidenciado por sintomas físicos, comportamentais e cognitivos.

Em primeiro lugar precisamos mudar nossa mentalidade em relação ao conceito de crise como sinônimo de negativo ou conflito; o termo crise está relacionado em nossa língua ao elemento químico crisol que diz respeito ao processo de retirada das impurezas do mental precioso (ouro) em seu processo de mineração.

Podemos fazer uma analogia com o entendimento que a Doutrina Espírita faz do sofrimento como estratégia de educação do espírito eterno, ou seja, o sofrimento como oportunidade de superação e crescimento expurgando o ser que sofre de todos os seus conteúdos desarmônicos ou o sofrimento com uma função iniciática. Faz muito sentido esses conceitos se avaliamos o mundo de transição em que vivemos baseado na indiferença moral de seus habitantes.

O termo Krises para o grego também remete á ideia de decisão em processos de mudança, crescimento e evolução. Em sânscrito o sentido é desembaraçar ou purificar de uma situação desafiadora.

Estamos vivendo o tempo em que os eventos da pandemia associado com diversas outros fatores ameaçadores romperam com o estado de “normose” em claro convite da providência divina, para mudança de mentalidade.

Parada, 2004 estabelece três condições em situações em que a resolução da crise se dá de forma adaptativa:

1) Domínio da situação atual de forma resiliente;

2) Elaboração de conflitos do passado nas experiências traumáticas;

3) Desenvolver estratégias para o futuro.

Para alcançar um comportamento resiliente e adaptativo o ser humano precisa buscar espiritualidade, conceito este que diz respeito a vivência de ideais que transcendem a sua existência, tais como virtudes, o sentido da existência e a crença em uma vida futura amparada força universal do amor nas relações consigo mesmo, com o próximo e com o criador; para alcançar esse padrão de comportamento temos que vivenciar a verdade que descortinamos pelo conhecimento, ou seja, o conceito de espiritualidade como sendo tudo que você faz com o que você crê.

Feito isso, podemos harmonizar nossa consciência e tranquilizar nossa mente com vistas a comportamentos mais adaptativos.

2. Diante do seu olhar experiente tanto na medicina quanto no espiritismo, como o senhor acredita que podemos elevar nossos pensamentos, melhorando assim nossa mente, para não entrarmos em estados profundos de sofrimento e doenças geradas pela tristeza?

A sociedade pós-moderna vive uma indiferença moral e um estado de desconexão criatura-criador de longo curso, porém todas as revelações da lei de Deus estão disponíveis para conduzir o ser humano para um despertamento espiritual, mudando a mentalidade no campo dos pensamentos, emoções e atitudes. Kardec orientou que devemos lutar com nossas más tendências e nos ofereceu Jesus como o modelo de homem bem.

A alma, sendo o espírito encarnado, apresenta um corpo interdimensional chamado perispírito, que vai se conectar com várias dimensões que se interpenetram em espaços vibratórios distintos.

Quando o ser humano passa pelas adversidades e condições de sofrimento o que vai dizer se ele é capaz ou não de aprender com essas condições é a capacidade de vigilância orientada pelo seu discernimento que está intimamente ligado ao seu estado evolutivo. Quando não conseguimos direcionar nossa mente para encontrar saídas de nossos desafios existenciais, ou seja, encontrar um sentido para tudo isso, geralmente entramos em sofrimento sem o sentido… que denominamos de desespero. Nesta condição de desespero o ser fica atento com seus medos e não consegue conectar com sua área cerebral responsável pelas noções superiores, pela resiliência e, principalmente, utilizar o recurso da prece que representa a maior dádiva que Deus colocou ao alcance do ser encarnado e desencarnado.

Desta forma, as sublimes ferramentas colocadas à disposição daquele que sofre é a vigilância com seus pensamentos, emoções e atitudes, a oração para alcançar nossa essência espiritual e nos conectar com as forças espirituais que nos transcendem e, finalmente, realizar o nosso autoconhecimento para identificar as causas profundas de nosso sofrimento. Esta ação está perfeitamente indicada por Jesus em seu Sermão da Montanha quando orienta a humildade, resignação e mansuetude como forma de autoaceitação e enfrentamento das adversidades.

O desafio para todos nós que vivemos neste mundo é vencer o imediatismo que está desequilibrando as relações sociais e metassociais, ou seja, ninguém quer contemplar, realizar o autoenfrentamento e buscam gratificação imediata representada por compulsões diversas que prendem o indivíduo em automatismos e vazio existencial. Querem tudo pronto: alimentos, tudo ligado ao consumismo desenfreado.

Portanto, o século vinte foi o século da depressão e este, o século da ansiedade, onde a pessoa cria necessidades e se sobrecarrega de uma corrida desenfreada para adquirir e possuir tudo. Somente o autoconhecimento poderá despertar o individuo deste transe hipnótico iniciado na infância e alimentado por uma sociedade refém do consumismo. Podemos iniciar o processo de despertamento utilizando a ferramenta psíquica do autoconhecimento:

· Avalie diariamente sua consciência;

· Faça revisão de suas ações durante o dia;

· Interrogue a sua consciência se não deixou de cumprir os seus deveres;

· Pergunte se teriam motivos de queixas de ti.

3. Temos visto um aumento de casos de depressão na humanidade. Podemos afirmar que qualquer doença física tem enorme ligação com a situação espiritual que se encontra o indivíduo? Diante deste entendimento, a depressão também está ligada a questões muito profundas de ordem espiritual que merecem nossa atenção? Como podemos sair de uma situação dessa?

Importante entender que somos seres espirituais vivendo uma experiência física e, neste caso, nosso corpo espiritual nos conecta com a dimensão física e o mundo astral. Muitos conteúdos do inconsciente profundo ligados às nossas vidas passadas podem ser reeditados para a consciência de superfície gerando repercussões emocionais e sintomas que podem ser classificados nos compêndios de psiquiatria e para entendermos de forma mais adequada e identificar as causas dos sofrimentos psíquicos, seguimos o modelo integrativo das doenças: Modelo Biopsicossocial e espiritual.

Ao avaliar a depressão ou ansiedade no paradigma médico-espírita devemos observar todas essas dimensões do ser para fazer as propostas terapêuticas médicas, psicológicas e espirituais necessárias para alcançar a harmonia do ser, sempre lembrando que cura, do latim, seria aquele individuo que aprendeu a cuidar de si.

4. A fé é nosso combustível diário para o enfrentamento das dificuldades da vida. Como sustentamos essa chama dentro de nós?

Segundo Emmanuel, a fé é a divina claridade da certeza; o benfeitor faz referência ao estado de humildade do ser diante de Deus permitindo buscar o fortalecimento espiritual através da conexão com um poder superior. A fé, portanto, é a ligação do ser com as forças espirituais propiciando recursos e esclarecimentos necessários para a renovação moral, único caminho para o enfrentamento das provas e expiações.

Uma forma de fortalecer nossa fé começa no exercício de papeis sociais tratando bem nossos familiares, orientando nossos filhos, acolhendo com benevolência e compaixão as diferenças existentes entre todos que convivem conosco.

As diretrizes para alimentar a fé divina em nós já estão disponíveis para todos nós nos ensinos de Jesus e se resumem nesta máxima: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.”

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Federação Espírita do Estado de Goiás (ir para o site: https://www.feego.org.br/ )

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