FEEGO entrevista: Ana Tereza Camasmie

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4 min readNov 12, 2021

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Por Angélica de Pádua

Na edição de novembro de nosso boletim eletrônico temos a psicóloga, autora e palestrante espírita, Ana Tereza Camasmie, que nos fala sobre como podemos atravessar o processo de perda de entes queridos.

“Na vida, não vale tanto o que temos, nem tanto importa o que somos. Vale o que realizamos com aquilo que possuímos e, acima de tudo, importa o que fazemos de nós!”
Chico Xavier

  1. O que, afinal, é a morte/desencarnação?
    De uma maneira bem objetiva, a morte se dá quando há a extinção da vida orgânica proveniente do rompimento do laço fluídico que é responsável pela união do espírito com o corpo. Esta separação de caráter definitivo se dá de modo gradual, conforme nos esclarece a questão 155 de O Livro dos Espíritos. O perispírito segue junto com o espírito (na verdade, nunca se separam) para o mundo espiritual e o corpo irá sofrer o processo natural de decomposição material. Quanto mais um espírito estiver identificado com a vida material, mais difícil se torna seu desligamento, portanto, quanto mais cedo se aproximar de um modo de viver desapegado enquanto encarnado, mais facilidade encontrará em seu processo de desencarnação. A vida não cessa, pois o espírito continua sua jornada evolutiva.
  2. Existem ritos de passagem do mundo material para o mundo espiritual?
    Não. O que existe é um processo natural de readaptação do espírito à sua nova realidade. Na transição da vida corpórea para a espiritual, o que temos é um estado de perturbação em que “a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades” (O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. I, item 6). Esse processo acontece no tempo necessário que cada espírito necessita, podendo variar de algumas horas a alguns anos, até que ele esteja em condições de despertar.
  3. Como deve ser vivenciado o processo de luto?
    O importante é que haja a possibilidade de se viver o luto. Geralmente as pessoas têm pressa, querem algo que anestesie seus sentimentos, querem livrar-se da tristeza. Essa pressa não ajuda, pois impede que a alma realize seu processo natural de readaptação a uma vida que agora precisa prosseguir sem a presença física daquele ente querido. Além disso, a tristeza opera trabalhos ocultos em nossa alma, e aqui o tempo é algo precioso para poder permitir que isso ocorra. O tempo que cada um precisará para refazer o sentido da sua vida é muito particular, e, por isso, merece respeito de todos nós quanto a isso. Há pessoas que irão precisar de ajuda profissional para reestruturar seu cotidiano, e não há nada de errado nisso, mas, de um modo geral, a própria família encontra seus caminhos de restabelecimento do equilíbrio.
  4. Como superar a perda de um ente querido?
    Não há fórmulas para um caminho tão delicado e singular. Cada pessoa lida com a morte a sua maneira. Dependendo da profundidade daquele vínculo, a perda vai se dar de modo mais ou menos intenso, por isso se diz que a saudade é do tamanho do amor que sentíamos naquela relação. Talvez a palavra mais justa não seja superar a perda, mas atravessar. O luto é uma travessia necessária. E essa experiência nos acompanha durante o tempo de encarnados até que possamos nos reencontrar novamente. Há várias teorias que explicitam as várias fases que ocorrem diante da perda até que se possa aceitar a separação, tais como a negação, a revolta, a negociação com Deus, tristeza e aceitação. Não é necessário que todas as pessoas passem por essas fases, mas saber que elas acontecem pode nos ajudar a compreender todas as reações difíceis e novas que chegam neste período. O essencial é manter-se cuidando de si e sentir-se cuidado por Deus. Nada nos acontece sem que nosso Pai nos envie condições para atravessar. Acolhimento da família, dos amigos, é essencial, e respeito com o tempo de retornar às atividades laborais e cotidianas. Não ter pressa de nada, apenas confiar que tudo está como deve ser. No mais, muita oração para fortalecer nossa fé na vida futura, que se constitui como pontes entre nós e Deus, para que esta travessia se dê de modo mais saudável.
  5. Ter uma crença religiosa é importante para que o indivíduo seja capaz de interpretar o advento da morte/desencarnação?
    Sim, poder contar com a sustentação espiritual é sempre bom nos momentos desafiadores da vida. Se for uma religião que aborde a vida depois da morte, melhor ainda. Consola muito poder saber que a vida continua, pois nos ajuda a sair do desespero que nos acomete quando pensamos que nunca mais vamos ver aquele ente querido. Além disso, a experiência religiosa ou espiritual nos ajuda a compreender que há algo muito maior do que nós que dirige a Vida. E que, portanto, precisamos desistir de entender todos os porquês a respeito dessa separação temporária bem como o modo como ela se deu.

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Federação Espírita do Estado de Goiás (ir para o site: https://www.feego.org.br/ )

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