FEEGO Entrevista: Vicente Pessoa Júnior

FEEGO
5 min readOct 18, 2021

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Por Angélica de Pádua

Nesta primeira edição de nosso boletim eletrônico temos o médico infectologista e vice-presidente da Associação Médico Espírita Goiana (AME-GO), Dr. Vicente Pessoa Júnior, que nos fala sobre como podemos desabrochar a esperança em nós mesmos vivenciando um Inverno para chegar à Primavera:

Vicente Pessoa Júnior (FEEGO)

Qual o real valor da vida?

Resposta: A vida é um bem inalienável. Essa frase é da Dra. Marlene Nobre, fundadora da Associação Médico-Espírita do Brasil. Quer dizer que a vida é inegociável e deve ser defendida e preservada em todas as suas diversas formas e estágios. É impossível estabelecer um valor para a vida, pois ela é o Valor Absoluto, o Valor Real, é a Criação Divina em sua mais excelsa manifestação. Por isso podemos afirmar que qualquer valor de comparação terreno que se estabeleça para vida é insuficiente para defini-la e caracterizá-la, pois seria dar um valor terreno para a própria criação e para o próprio Criador.

Quando estamos vivenciando um inverno em nossas vidas, como podemos enxergar a primavera? Qual a fórmula?

Resposta: As estações do ano são cíclicas. Alternamos sucessivamente meses de inverno, que inevitavelmente são seguidos dos meses da primavera. A vida na Terra, um planeta de provas e expiações, é como uma jornada por uma longa estrada. Uma longuíssima estrada, com diferentes dificuldades em cada trecho. Assim como ao viajarmos de carro por uma longa estrada observamos que a paisagem, a temperatura e as circunstâncias mudam ao longo do tempo, ao caminharmos pela estrada da vida temos a mesma situação. Ora estamos em trechos mais sinuosos, mais frios e cheios de ventanias, buracos, elevações, e ora estamos em avenidas largas, floridas, planas e sem solavancos, com uma brisa suave e temperatura agradável. Portanto, não há uma fórmula mágica, no sentido de facilidade, para sairmos dos trechos de inverno para chegarmos nos momentos de primavera. O que os espíritos nos ensinam ao longo de toda a obra espírita é que devemos nos fortalecer cultivando em nós as flores do Evangelho do Cristo, para que quando atravessarmos os trechos frios, possamos ser aquecidos pelo perfume dessas flores e tolerá-los melhor. Cabe a cada um de nós internalizar e viver essa Verdade Evangélica, e nesse sentido, talvez seja essa a fórmula mágica. O trecho difícil é apenas o trecho que você está por um momento. A esperança cíclica das estações traz a certeza de que caminhando sempre em frente, melhorando-se dia após dia, um novo trecho surgirá em breve. Chico Xavier dizia: “Tudo passa!”. Continuar a caminhar para frente, mesmo que muito devagar, é o segredo, pois passo a passo o trecho difícil ficará para trás.

Atualmente estamos passando uma transição de inverno para verão por meio da pandemia vivenciada, qual análise podemos fazer deste período?

Resposta: A pandemia tem sido uma prova para toda a humanidade encarnada e desencarnada. Muitas pessoas desencarnando ao mesmo tempo, pelo mesmo motivo, e muitos corações sofrendo com luto, saudade e distância dos que partiram. Além disso, há muito sofrimento e dificuldade entre os próprios encarnados devido às restrições, ao distanciamento e até mesmo as dificuldades econômicas e sociais que muitos estão enfrentando. Sempre compreendendo todos esses aspectos, não podemos deixar de lembrar que somos espíritas. E isso pressupõe que acreditamos na imortalidade da alma, na Justiça Divina, expressa pela Lei de Causa e Efeito. Portanto, é sob esse olhar que devemos encarar e viver o momento atual. Mesmo diante de todas essas dificuldades, tentar expressar em nós mesmos tudo aquilo que aprendemos estudando o Espiritismo. Buscar dentro de nós a paciência, a tolerância, a calma e o equilíbrio. Tentar combater o medo que invade nossos pensamentos, pois o medo desequilibra nossas emoções. E sobretudo, buscar auxiliar aqueles que nos rodeiam e que estejam sofrendo mais ainda que nós mesmos. Sob a ótica espiritual, o momento é de prova para todos e uma boa oportunidade para colocarmos em prática nosso aprendizado, conquistando boas notas nos desafios diante de nós. A humanidade sairá melhor dessa pandemia no aspecto científico e nos aspectos social e moral, por mais difícil que seja acreditar nisso. A lei do progresso é inexorável, e muitas vezes, acelerada por dificuldades extremas como essa. Talvez os benefícios serão vistos e sentidos apenas por futuras gerações, mas o que são as futuras gerações senão nós mesmos reencarnados?

E como encontrar inspiração mesmo não podendo sorrir porque a máscara tampa, não podendo abraçar por que o distanciamento nos obriga e não podendo tocar sem usar o álcool gel?

Resposta: A inspiração é Deus cochichando em nossos ouvidos sobre esperança, coragem e fé. Busquemos conversar com Deus, através da oração. A oração é o perfume eterno da vida. Se usássemos mais e melhor essa ferramenta de conexão divina, a inspiração seria uma inquilina constante em nossos corações. E muito embora as máscaras apaguem os sorrisos, o álcool esfrie nossas mãos e o distanciamento impeça que nos aqueçamos nos abraços dos amigos e parentes, o fogo divino está sempre presente. E Humberto de Campos diz que depois da oração, o livro é a principal escada que une o Céu à Terra. Utilizemos também os degraus dessa escada, lendo bons livros. E nesse aspecto, a doutrina espírita é imbatível em fontes inspiradoras. Os romances de Emmanuel, as obras de André Luiz, a obra de Dona Yvonne do Amaral Pereira, de Zilda Gama, de León Denis, de Divaldo Pereira Franco estão todos à nossa disposição para nos auxiliar a manter o pensamento unido ao pensamento do criador e nos ajudar a manter o rumo certo nesse momento da estrada.

E enfim, como compreender o tempo de Deus?

Resposta: O tempo de Deus pertence ao Criador. Não temos condições de compreendê-lo. Somos imediatistas e tentamos analisar as coisas dentro do período de apenas uma encarnação. Esquecemos que a vida é eterna e é um continuum. O tempo de Deus também é eterno e a única forma de talvez, muito talvez, tentar entendê-lo, é analisando-o no sentido da eternidade. Tentar compreender o tempo de Deus, sob a ótica de uma encarnação apenas, traz sempre muita angústia e ansiedade, pois nos colocamos em uma tentativa muito além de nossas forças. Talvez seja mais importante e mais interessante compreendermos como atravessar os tempos de Deus com segurança e vencendo os bons combates. A paciência é nossa melhor arma nessa luta. Cultivemos a paciência conosco e com os que nos cercam, certos de que, ao fazê-lo, ao longo dos anos, chegaremos mais próximos da compreensão do tempo de Deus.

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