Os desafios na questão do aborto

FEEGO
8 min readMay 2, 2022

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Juliano Pimenta Fagundes

Ativistas feministas em Bogotá, celebram a triste decisão da Corte Constitucional da Colômbia, que descriminalizou o aborto no país. Foto: Raul Arbodela/AFP.

No dia 21 de fevereiro de 2022, uma notícia preocupante tomou conta de grande parte dos noticiários. Em uma decisão considerada histórica no Tribunal Constitucional colombiano, foi legalizado o assassinato de bebês ainda no ventre da mãe, o conhecido aborto, até as 24 semanas de gestação, numa votação apertada. A decisão foi considerada uma “vitória” de um movimento empreendido por mulheres, chamado Marea Verde, ou Onda Verde.

Além da Colômbia, os países que descriminalizaram ou legalizaram o aborto até certo ponto, na América do Sul são Argentina, Cuba, Guiana, México e Uruguai. No Brasil, um panorama propenso à decisões semelhantes já vem sendo sido cultivado há alguns anos.

Sobretudo dois momentos foram marcantes para a possível transformação do Brasil em uma nação abortista: uma decisão do STF de 2016, com base no voto do ministro Luís Roberto Barroso, que afirmou que “a criminalização do aborto nos três primeiros meses da gestação viola os direitos sexuais e reprodutivos da mulher” e outro, em 2017, uma ação pela descriminalização do aborto ao STF, assinada por mulheres do Psol e da ONG Anis — Instituto de Bioética. São questões recentes e o debate da temática ainda se encontra aquecido e atual.

Pelo visto há uma tendência à liberação do aborto em toda parte. Mas, se do ponto de vista legal, ético, social, político, ideológico e outros, assassinar bebês antes do seu nascimento parece ser a solução ideal para o que tem sido considerado o “problema” da gravidez; do ponto de vista cristão e, ainda, sob o ponto de vista da doutrina espírita, como o aborto pode ser interpretado? Como esse movimento em prol do aborto pode ser entendido sob ponto de vista espiritual, tendo em vista a vida futura que aguarda a todos nós?

Esse artigo tem por objetivo tratar dessa temática tão grave, à luz esclarecedora do evangelho redivivo do Cristo, nosso querido governador planetário.

Inicialmente não há que se falar em confusão doutrinária quanto ao tema. Mesmo na tradição judaico-cristã, as disposições contra o aborto são históricas e no Velho Testamento bíblico encontram-se inúmeros esclarecimentos quanto ao tema: “Não matarás” (Êxodo 20:13), “Tu criaste o íntimo do meu ser
e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste
de modo especial e admirável” (Salmos 139:13–14), “Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações” (Jeremias 1:5), “Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá” (Salmos 127:3), “Desde o ventre materno dependo de ti; tu me sustentaste desde as entranhas de minha mãe. Eu sempre te louvarei!” (Salmos 71:6), “Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado” (Gênesis 9:5–6), “Aquele que me fez no ventre materno não os fez também? Não foi ele que nos formou, a mim e a eles, no interior de nossas mães?” (Jó 31:15).

Estas são apenas algumas passagens que demonstram que o cristão da atualidade não pode se dizer ignorante a respeito da tradição bíblica sobre o tema. Pode-se ver nas antigas escrituras a clara defesa da vida, na condenação de qualquer tipo de atentado contra esta e no entendimento de que toda gestação é criação e cultivo divinos, no ventre materno; inclusive com a anterior preparação do espírito antes de seu nascimento.

Quando, então, na França do século XIX, cumpre-se as palavras de Jesus no advento da terceira revelação junto ao codificador Allan Kardec, a questão é fortalecida pela plêiade de trabalhadores do Cristo. Suas palavras são claras em O Livro dos Espíritos: “Há crime sempre que transgredis a Lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, pois isso impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando” (Questão 358), no entanto, caso o nascimento da criança coloque em perigo a vida da mãe, é preferível que “se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe” (Questão 358).

Assim, em respeito à palavra de Jesus, que afirmou “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mateus 5:17–19), os espíritos superiores enviados pelo Cristo mantem o entendimento bíblico da questão, fazendo apenas um acréscimo sobre a condição da mulher ficar em perigo de vida devido à gestação, situação única em que os espíritos afirmam ser lícito o aborto, mesmo porque, explicam, o espírito reencarnante terá “uma existência nulificada e que ele terá de recomeçar” (Questão 357), ou seja, esse espírito terá nova oportunidade de reencarnar.

A todas essas questões a ciência material redargui, dizendo que ainda no ventre o bebê não se encontra formado, por isso não se trata de uma vida “real”, portanto não se trata de assassinato. As várias passagens do Velho Testamento discordam e ainda em O Livro dos Espíritos está registrado que “O feto não tem pois, propriamente falando, uma alma, visto que a encarnação está apenas em via de operar-se. Acha-se, entretanto, ligado à alma que virá a possuir” (Questão 353).

Então, desde a concepção já está sendo cumprido o planejamento reencarnatório, com a ligação do espírito com seu futuro corpo físico, dentro do ventre materno, cabendo de nossa parte fazer o máximo possível para que essa criança possa nascer em segurança.

Mas então, uma pergunta se faz presente: o que tem levado tantas mulheres a optarem voluntariamente pelo assassinato de bebês em seu próprio ventre, desafiando as leis divinas? A resposta a essa questão foi respondida de forma antecipada por dois espíritos através da psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Em 1938, o grande médium brasileiro psicografou uma das mais grandiosas obras de sua safra mediúnica, o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, com o espírito Humberto de Campos. O livro trazia uma das primeiras recomendações a respeito das futuras correntes de pensamento que ameaçariam a proposta do Cristo para a Humanidade: “Nesta época de confusão e amargura, quando, com as mais justas razões, se tem, por toda parte, a triste organização do homem econômico da filosofia marxista, que vem destruir todo o patrimônio de tradições dos que lutaram e sofreram no pretérito da humanidade, as medidas de repressão e de segurança devem ser tomadas a bem das coletividades e das instituições, a fim de que uma onda inconsciente de destruição e morticínio não elimine o altar de esperanças da pátria”. Humberto de Campos já previa os perigos dos movimentos de cunho marxista, como o socialismo, o comunismo e as posições de polaridade esquerdista para a consolidação dos ideais cristãos na Terra.

Pouco tempo depois, no ano de 1939, Emmanuel escreveu de forma ainda mais direta, alertando os espíritas sobre os perigos do movimento feminista. Afirma o benfeitor que “A ideologia feminista dos tempos modernos, porém, com as diversas bandeiras políticas e sociais, pode ser um veneno para a mulher desavisada dos seus grandes deveres espirituais na face da Terra. Se existe um feminismo legítimo, esse deve ser o da reeducação da mulher para o lar, nunca para uma ação contraproducente fora dele. É que os problemas femininos não poderão ser solucionados pelos códigos do homem, mas somente à luz generosa e divina do Evangelho” (O Consolador, questão 67).

O benfeitor não quer dizer que a mulher nasceu para ser “dona de casa”, mas que esta, independente de todas as conquistas que empreender em sua vida, tem um dever próprio de sua organização física e espiritual: o compromisso natural com a maternidade, uma responsabilidade decorrente desta, com a formação do núcleo familiar e os cuidados com o ser humano nas primeiras épocas de sua vida. E ainda assevera que “problemas femininos não poderão ser solucionados pelos códigos do homem”, ou seja, a mulher tornar-se como um homem, seguindo os ideais dos homens, como tanto defende o movimento feminista atual, é a destruição da mulher e de seu propósito reencarnatório.

Além disso, obras posteriores nos vieram mostrar a triste condição das mulheres que empreendem pelos criminosos caminhos do aborto. Uma das cenas mais aterradoras foi retratada em 1943, publicada a obra Nosso Lar, cujo um de seus capítulos, denominado “Vampiro”, nome extremamente sugestivo sobre a questão, era dedicado exclusivamente a temática do aborto e suas nefastas consequências sobre a mulher e sobre a triste condição em que lançava os espíritos abortados.

No presente texto, André Luiz encontra-se com um espírito atormentado, uma médica ginecologista que assassinara diversos nascituros enquanto encarnada e estava cercada por pontos escuros: “ — Esses pontos escuros representam cinquenta e oito crianças assassinadas ao nascerem. Em cada mancha vejo a imagem mental de uma criancinha aniquilada, umas por golpes esmagadores, outras por asfixia. Essa desventurada criatura foi profissional de ginecologia. A pretexto de aliviar consciências alheias, entregava-se a crimes nefandos, explorando a infelicidade de jovens inexperientes. A situação dela é pior que a dos suicidas e homicidas, que, por vezes, apresentam atenuantes de vulto”.

E ainda, na obra Vida e Sexo, também psicografada por Chico Xavier e lançada em 1970, uma advertência em seu capítulo Aborto, “Admitimos que seja suficiente breve meditação, em torno do aborto delituoso, para reconhecermos nele um dos grandes fornecedores das moléstias de etiologia obscura e das obsessões catalogáveis na patologia da mente, ocupando vastos departamentos de hospitais e prisões”.

O tema com certeza merece uma avaliação profunda. Mais recentemente, um levantamento realizado pela historiadora, escritora e deputada estadual Ana Campagnolo trouxe que, até o presente momento, estão registrados cerca de 1 bilhão de abortos “oficiais” no mundo, dado consolidados dos países onde o aborto é legalizado.

Percebe-se então que o panorama é ainda mais preocupante do que se percebe superficialmente. Os dados, sem dúvida, revelam: o aborto é o responsável direto pelo maior genocídio que se tem notícia em toda a história da humanidade. E, em agravo a essa constatação, a de que esse crime reverbera nas esferas espirituais de maneira trágica, na multiplicação do número de mulheres em estado de grande transtorno ao chegar no mundo espiritual e que acabam passando longos períodos em locais de trevas e sofrimento e, ainda, o grande número de obsessões causadas pelo aborto delituoso, que leva muitos espíritos a tornarem-se obsessores ferrenhos em perseguição àquelas que interromperam sua oportunidade reencarnatória por meios violentos, gerando grandes transtornos às mulheres encarnadas e em débito com as leis divinas.

Encerro esse artigo sentindo-me aliviado por poder tratar de tema tão grave, auxiliando o esclarecimento geral; mas ainda entristecido, por observar que o avanço das trevas continua constante, consumindo a humanidade desavisada, posição após posição, prejudicando ainda enormemente o plano do Cristo para todos nós.

Saibamos ainda, que a amplitude do tema não se encerra por aqui, tendo ainda a literatura espírita muito mais obras e mensagens que abordam o assunto, embora com esclarecimentos tão graves quanto os expostos no presente texto.

Espíritas, o compromisso que temos com o Cristo não é o de transformar o mundo, mas o do esforço em nos melhorarmos. E, se a todo momento somos chamados pelo mundo a agir, desde um simples conselho que nos é solicitado ou mesmo na escolha do governante de um país, é que nossas ações são sempre de grande relevância: por isso a importância em nos melhorarmos sempre.

Roguemos em nossas preces que os grandes espíritos que coordenam os caminhos do mundo possam nos inspirar e com o auxílio desses benfeitores, possamos fazer sempre o que é correto, em nome de Jesus.

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