Pesquisa por Jane de Assis Azerêdo
(Trabalhadora da Área de Comunicação Social Espírita — FEEGO)
Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon no dia 03 de outubro do ano de 1804, foi um influente educador, autor e tradutor francês. Sob o pseudônimo de Allan Kardec, notabilizou-se como o Codificador do Espiritismo (neologismo criado por ele), também denominado de Doutrina Espírita. Foi discípulo do reformador educacional Johann Heinrich Pestalozzi e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre fenômenos paranormais (mais notoriamente a mediunidade), assuntos que antes eram considerados inadequados para uma investigação.
Se foi fácil aos investigadores conscienciosos darem-se conta do alto valor e grande alcance da obra de Allan Kardec, pouquíssimos conseguiram, por lhes faltarem até hoje os elementos necessários, adentrar a vida interior do homem e acompanhá-lo passo a passo no cumprimento de sua missão, tão grande, gloriosa e bem desempenhada.
Esse pensador tão ousado quanto metódico, esse sábio filósofo, clarividente e profundo, esse operário sem esmorecimento, cujo labor fez tremer o edifício religioso do Velho Mundo e preparou novos alicerces que seriam a base da evolução e renovação da sociedade, encaminhando-a para um ideal mais sadio, mais alevantado, para uma evolução moral e intelectual seguras, adotou o pseudônimo de Allan Kardec para uma diferenciação da Codificação Espírita em relação aos seus anteriores trabalhos pedagógicos, o que alcançaria para ele tantos lauréis para nossa funda simpatia, e nosso filial reconhecimento.
Hippolyte Léon Denizard Rivail recebeu desde o berço um nome querido e acatado, e toda uma tradição de virtudes e honra. Seus avós tinham se distinguido na advocacia e magistratura, pelo talento, saber e escrupulosa probidade. Era de se esperar que o jovem Rivail buscasse, igualmente, os louros e glórias de sua estirpe. Tal, porém, não sucedeu, porque, desde a sua juventude, sentiu-se atraído pelas ciências e pela filosofia.
Em Lyon, Denizard Rivail fez seus primeiros estudos e inteirou a sua bagagem escolar, na cidade de Yverdon, na Suíça, com o famoso mestre Pestalozzi, do qual, em pouco tempo, se fez um dos mais sábios alunos, colaborador eficiente e dedicado. Inúmeras vezes, quando de todas as partes Pestalozzi era solicitado pelos governos para criar institutos tais como o de Yverdon, confiava a Denizard Rivail o trabalho de substituí-lo na direção de sua escola. O discípulo, tornado mestre, tinha sobretudo, com os mais legítimos direitos, a capacidade necessária para sair-se airosamente da tarefa a ele confiada. Bacharelara-se em Letras e Ciências. Insigne linguista, conhecia perfeitamente e falava corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol. Tinha conhecimentos, também, do holandês, e com facilidade podia expressar-se nessa língua.
Alto e belo moço era Denizard Rivail, de maneiras distintas, bem-humorado sempre entre os íntimos, bondoso e obsequioso.
Fundou em Paris, à Rua Sèvres, 35, uma escola idêntica à de Yverdon, em sociedade com seu tio, irmão de sua mãe, o qual entrara como sócio capitalista.
Casou-se com Amélie-Gabrielle Boudet, no dia 6 de fevereiro de 1832. Não tiveram filhos.
O sócio do Sr. Rivail estava dominado pela paixão pelo jogo, e levou à ruina o sobrinho, perdendo fortes quantias. Rivail pediu a liquidação do instituto. Feita a partilha, da qual cada um recebeu a quantia de 45.000 francos. Tal soma foi empregada pelo Sr. e Sr.ª. Rivail na casa de um de seus íntimos amigos, negociante, que realizou maus negócios e, com sua falência, nada deixou aos credores. Em vez de desanimarem com esse duplo revés, o Sr. e a Sr.ª Rivail puseram-se corajosamente ao trabalho. Ele conseguiu e pôde tratar da contabilidade de três firmas, que lhe davam perto de 7.000 francos anualmente. Findo o seu dia, esse incansável trabalhador aproveitava a noite para escrever, ao serão, gramáticas, aritméticas, livros para estudos pedagógicos superiores; fazia a tradução de obras inglesas e alemãs e preparava todos os cursos de Levy-Alvarès, assistido por alunos do bairro de Saint-Germain. Em sua residência, organizou também cursos gratuitos de química, física, astronomia e anatomia comparada, de 1835 a 1840, os quais eram muito frequentados. Membro de inúmeras sociedades de sábios, especialmente da Academia Real de Arras, foi premiado por concurso, em 1831, apresentando a sua magnífica memória: Qual o sistema de estudo mais em harmonia com as necessidades da época?
Devem ser citadas, entre as suas inúmeras obras, na ordem cronológica:
•1828 — Plano apresentado para o aperfeiçoamento da instrução pública;
• 1829 — Curso Prático e Teórico de Aritmética;
•1831 — Gramática Francesa Prática;
•1846 — Manual dos Exames para Obtenção dos Diplomas de Capacidade, soluções racionais de questões e problemas de aritmética e geometria;
•1848 — Catecismo Gramatical da Língua Francesa.
Por fim, em 1849, temos o Sr. Rivail professor no Liceu Polimático, lecionando nas cadeiras de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Em uma obra bastante aceita, faz um resumo dos seus cursos, e publica em seguida: Ditados normais dos Exames na Municipalidade e na Sorbonne e Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas. Sendo essas várias obras adotadas pela Universidade da França e vendendo-se em larga escala, o Sr. Rivail pôde alcançar, graças a elas e à assiduidade de seu trabalho, uma singela abastança. Durante 30 anos (de 1824 a 1854), dedicou-se inteiramente ao ensino e foi autor de várias obras didáticas, que em muito contribuíram para o progresso da educação.
Deduzindo-se dessa muito ligeira exposição, vemos que o Sr. Rivail estava magnificamente bem preparado para a espinhosa missão que ia desempenhar e tornar triunfante. Tinha um nome conhecido e acatado, seus trabalhos merecidamente louvados, muito antes de ele imortalizar o nome de Allan Kardec.
Dedicou-se aos estudos do magnetismo até 1855, quando firma publicamente sua posição de positivista.
Em 1854 foi que o Sr. Rivail, pela primeira vez, ouviu falar nas mesas girantes, através do Sr. Fortier, magnetizador, com quem estabelecera relações, em virtude de seus estudos sobre o magnetismo. Um dia, o Sr. Fortier lhe disse: “Eis o que é bem mais extraordinário: não apenas se faz girar uma mesa, como também se consegue fazê-la falar. Pergunta-se e ela responde.” Quanto a isso, replicou o Sr. Rivail: “ Eu crerei quando vir, e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro para pensar, nervos para sentir, e que se pode tornar sonâmbula; até que isso se dê, dê-me permissão de não enxergar nisso senão uma fábula para provocar o sono.”
Esse era, no início, o estado de espírito do Sr. Rivail. Assim o encontraremos inúmeras vezes, não negando nada por prevenção, mas exigindo provas e querendo ver e observar para acreditar; assim devemos nos mostrar em todas as ocasiões, no estudo tão atraente das manifestações com o mundo espiritual.
Em 1855, o professor Rivail depara, pela primeira vez, com o “fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida”. Passa então a observar esses fenômenos. Pesquisa-os cuidadosamente, graças ao seu espírito de investigação, que sempre lhe fora peculiar, não elabora qualquer teoria pré-concebida, mas insiste na descoberta das causas. Aplica a esses fenômenos o método experimental com o qual já estava familiarizado na função de educador, e, partindo dos efeitos, remonta às causas e reconhece a autenticidade daqueles fenômenos. Convence-se da existência dos espíritos e de sua comunicação com os homens.
Grande transformação se opera na vida do professor Rivail. Convencido de sua condição de espírito encarnado, adota um nome já usado em existência anterior, no tempo dos druidas: Allan Kardec.
De 1855 a 1869, consagrou sua existência ao Espiritismo; sob a assistência dos Espíritos Superiores, representados pelo Espírito de Verdade, estabelece as bases da Codificação Espírita, em seu tríplice aspecto: Filosófico, Científico e Religioso.
Além das obras básicas da Codificação (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese) — Pentateuco Kardequiano, contribuiu com outros livros básicos de iniciação doutrinária, como: O que é o Espiritismo? (1859), O Espiritismo em sua expressão mais simples (1862), O Principiante Espírita, entre outras menos conhecidas.
Após seu falecimento foi publicado Obras Póstumas (1890).
Cronologia de Allan Kardec
•1857 — Editou “O Livro dos Espíritos”, a 18 de abril.
•1858 — Aparecimento do 1º número da “Revista Espírita”, a 1º de janeiro, fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espírita, a 1º de abril.
•1859 — Publica “O que é o Espiritismo?”
•1860 — Reedição de “O Livro dos Espíritos”
•1861 — Edição de “O Livro dos Médiuns”, na primeira quinzena de janeiro.
•1862 — Publica o histórico do espiritismo; “O Espiritismo em sua mais simples expressão” e “Refutação de Críticas contra o Espiritismo”.
•1864 — “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em abril.
•1865 — “O Céu e o Inferno”, em agosto
•1868 — “A Gênese, em janeiro.
A essas obras junta-se a Revista Espírita, “jornal” de estudos psicológicos, lançado a 1º de janeiro de 1858 e que esteve sob sua direção por 12 anos. É também de sua iniciativa a fundação da sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1º de abril de 1858 — primeira instituição regularmente constituída com o objetivo de promover estudos que favorecessem o progresso do Espiritismo.
Em 1860 veio a confirmação do Espírito de Verdade como guia de Allan Kardec.
Em 1861, em um Auto de Fé (Inquisição), um bispo queima mais de 300 obras espíritas, a maioria de Allan Kardec, o que despertou a curiosidade e a propagação da Doutrina Espírita.
Assim surgiu o Espiritismo: com a ação dos Espíritos Superiores, apoiados na maturidade moral e cultural de Allan Kardec, no papel de codificador.
Com a máxima “Fora da Caridade não há Salvação”, procura ressaltar a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua.
A esse princípio cabe juntar outro: “Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”.
Esclarece Allan Kardec: A fé raciocinada que se apoia nos fatos e na lógica, não deixa qualquer obscuridade: crê-se, porque se tem certeza e só se está certo, quando se compreendeu.
Denominado “o bom senso encarnado” pelo célebre astrônomo Camille Flammarion, Allan Kardec desencarnou aos 65 anos, a 31 de março de 1869. Em seu túmulo, no cemitério de Père-Lachaise (Paris), uma inscrição sintetiza a concepção evolucionista da Doutrina Espírita: “Nascer, Morrer, Renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei.” (Goethe).
Referências Bibliográficas:
- O Livro de Allan Kardec — Opus Editora (edição em um só volume todas as obras de Allan Kardec)
- FEB– Federação Espírita Brasileira
- Wikipédia — https://pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec
- KARDEC — O Filme (trailer). https://www.youtube.com/watch?v=uoOKygHkkuU